Academia Cardiovascular da Sociedade Portuguesa de Cardiologia lança Ciclo de Formação em Investigação Clínica

O desenvolvimento da investigação clínica em cardiologia é uma das áreas prioritárias do programa da direção da SPC 2017-2019 e a criação de um curso de investigação clínica em Cardiologia dirigido a internos e assistentes de cardiologia, cardiologia pediátrica, cirurgia cardíaca e outras especialidades é disso exemplo. Neste sentido, a Academia Cardiovascular da SPC estabeleceu como prioridade a formação de profissionais altamente diferenciados e capacitados em desenvolver investigação científica de alto nível em Cardiologia, não só nos seus locais de trabalho, mas que possam também estar envolvidos na criação de redes multicêntricas de investigação iniciada pelo investigador e lança o Ciclo de Formação em Investigação Clínica em Cardiologia.

Neste curso, 20 médicos integrarão um programa diferenciado, competitivo e intensivo de desenvolvimento de competências 360º em investigação clínica em cardiologia. Todos os módulos incluem formação em

investigação clínica e boas práticas, ministrada pelo conceituado consórcio PT-CRIN, desenvolvimento de soft-skills (liderança, escrita médica, treino apresentações em público, como escrever um bom projeto, como obter financiamento), keynote lectures por conceituados cientistas e cardiologistas, momentos de networking e interação com facultydiferenciada.

Durante o curso, os alunos terão oportunidade de desenvolver um artigo científico, acesso a bases de dados de grandes estudos observacionais, que poderão ser trabalhadas com vista a publicação em revistas científicas peer-reviwed. Será, ainda, fornecida bibliografia de apoio previamente ao início de cada módulo e a avaliação será realizada no final através de teste de escolha múltipla online.

Para nos falar um pouco mais sobre esta oferta formativa, e sobre o seu potencial quanto à promoção de uma maior produção científica conversámos com o Prof. Rui Baptista, coordenador do Ciclo de Formação em Investigação Clínica em Cardiologia.

DISCURSO DIRETO | PROF. RUI BAPTISTA 

“A criação de um Ciclo de Formação em Investigação Clínica em Cardiologia foi sempre vista por esta direção como uma forma de contribuir para angariar um maior interesse na área da Investigação em Cardiologia. É dirigida para cardiologistas ou profissionais com interesse na área. Sem apostar na formação de recursos humanos em investigação nunca conseguiremos atingir o nível de excelência que pretendemos. A Sociedade Portuguesa de Cardiologia, através da promoção de um programa de formação modular como este, quer afirmar-se na sua tripla missão de apoio à investigação cardiovascular portuguesa:  formação em metodologias de investigação, promoção do financiamento dessa mesma investigação através de bolsas e prémios e divulgação da mensagem científica portuguesa, através da Revista Portuguesa de Cardiologia e do Congresso Português de Cardiologia, entre outras iniciativas.”

Prof. Rui Baptista

Qual é, na sua opinião, o panorama da investigação científica em Portugal, na área da cardiologia, e o que deverá ser incrementado e potenciado? 

Na área da cardiologia devemos sempre distinguir a investigação em três grandes eixos: a investigação clínica, a investigação básica e a investigação translacional.

Quanto à investigação clínica, falamos quer de estudos desenvolvidos por iniciativa do investigador, quer de estudos que são desenvolvidos e propostos pela indústria. Relativamente aos estudos promovidos por iniciativa do investigador, temos bons exemplos de projetos nacionais multicêntricos, como por exemplo o POST-IT (Portuguese Study on The Evaluation of FFR Guided Treatment of Coronary Disease) liderado por Sérgio Batista e por Luís Raposo, que representa um marco na capacidade de fazer estudos multicêntricos com publicações em revistas internacionais. Quanto à atividade ensaios clínicos promovida pela indústria, esta tem alguma expressão, embora limitada quando comparada com o que se faz internacionalmente ou mesmo na vizinha Espanha. Existem inúmeras barreiras à capacidade de se conseguir fazer mais investigação clínica promovida pela indústria em Portugal

Relativamente à investigação fundamental, existem vários grupos na área cardiovascular, com qualidade e impacto, muitos deles reunidos no consórcio PT-BEAT. É uma área que tem vindo a progredir, apesar dos investigadores sofrerem das mesmas condicionantes que a restante investigação fundamental sofre em Portugal. Nesta área o financiamento é reduzido, mas realço um grupo muito ativo que está sediado no Porto, o grupo do Prof. Adelino Leite Moreira, muito competitivo a nível internacional.

Finalmente, quando falamos de investigação translacional, falamos de uma área onde se tem tentado melhorar através da promoção de colaborações entre cardiologistas clínicos e cientistas de ciência fundamental. Esta interação tem sido muitas vezes fomentada por iniciativas baseadas nos centros clínicos académicos.

Infelizmente, a estrutura que temos organizada junto da medicina académica e dos hospitais não tem sido favorável a que esta realidade seja mais frequente. Esperamos que esta conjuntura possa mudar, e colocamos alguma esperança na publicação no passado mês de agosto do decreto-lei dos centros clínicos académicos, que dá ferramentas para a melhoria da capacidade de colaboração entre as entidades académicas e as entidades hospitalares, e onde está previsto a figura de “tempo protegido” para médicos investigadores, além de outras iniciativas que vão tentar ir ao encontro das necessidades da investigação em Portugal que, comparativamente a outros países estrangeiros ainda é, manifestamente, insuficiente.

De que forma, a criação do Ciclo de Formação em Investigação Clínica em Cardiologia poderá contribuir para um incremento da Investigação Clínica em Cardiologia?

A criação de um Ciclo de Formação em Investigação Clínica em Cardiologia foi sempre vista por esta direção como uma forma de contribuir para angariar um maior interesse na área da Investigação em Cardiologia. É dirigida para cardiologistas ou profissionais com interesse na área. Sem apostar na formação de recursos humanos em investigação nunca conseguiremos atingir o nível de excelência que pretendemos. A Sociedade Portuguesa de Cardiologia, através da promoção de um programa de formação modular como este, quer afirmar-se na sua tripla missão de apoio à investigação cardiovascular portuguesa:  formação em metodologias de investigação, promoção do financiamento dessa mesma investigação através de bolsas e prémios e divulgação da mensagem científica portuguesa, através da Revista Portuguesa de Cardiologia e do Congresso Português de Cardiologia, entre outras iniciativas.

O curso foi muito inspirado num projeto que já existe já há alguns anos em Portugal, promovido pela Harvard Medical School e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, o Programa “HMS-Clinical Scholars Research Training”, e a  ideia é, à semelhança do que acontece neste curso, fornecer ferramentas básicas de desenho de Ensaio Clínico, de Estatística, de Ética, técnicas de Fundraising, entre outras, e ainda dotar os formandos de competências sociais para que estes possam implementar e conduzir estudos e ensaios clínicos por iniciativa do investigador.

Portanto, com esta iniciativa, a Academia Cardiovascular da SPC pretende contribuir para a formação de um grupo de médicos com mais formação e capacidade para promover projetos de investigação, de forma autónoma ou colaborativa, em Portugal e, idealmente, com projeção internacional.

Qual o grande objetivo, potencial e bases formativas que este curso pretende promover? 

O objetivo da Academia Cardiovascular é garantir o acesso a formação de alta qualidade em diferentes áreas, e para isso a aposta em formadores com capacidade para garantir essa qualidade foi a nossa primeira prioridade. Como exemplo disso, já no primeiro módulo contamos com a colaboração da equipa do consórcio PT-CRIN, com a coordenação da Prof. Emília Monteiro, codiretora do Programa Harvard Medical School-Portugal e que contribuirá também para outras sessões sobre investigação clínica.

Para a área formativa relacionada com estatística, no primeiro módulo em que falaremos de Big Data, contaremos com a Equipa da SpiralData juntamente com a Dra. Fátima Loureiro, biostatista do CNCDC da SPC. Vamos ainda contar com um Keynote Speaker Israelita, Cardiologista de Intervenção e Professor na Universidade de Tel Aviv, Prof. Shlomo Matetzky. Teremos, finalmente, um workshop de Social Skills em liderança, que será dado pela Prof. Teresa Oliveira, da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e com extensa experiência em formações nacionais e internacionais na área de liderança.

Portanto, em suma, o grande objetivo deste curso é que os participantes possam desenvolver uma pergunta científica, discuti-la e criar um projeto de investigação que culmine na publicação de um artigo, preferencialmente na Revista Portuguesa de Cardiologia.

Quais as grandes expectativas relativamente ao Ciclo de Formação em Investigação Clínica em Cardiologia, nomeadamente no que diz respeito à promoção de uma maior investigação científica? 

A ideia é ter na nossa comunidade cardiológica, um forte e funcional networking, um grupo de pessoas com uma formação base robusta em investigação, e que se conheçam umas às outras, que interajam entre si, e que possam implementar estudos multicêntricos de investigação clínica ou translacional em Portugal. Portanto, a SPC pretende promover a capacidade de colaboração, a construção de uma linguagem homogénea e o acesso democrático a ferramentas de trabalho e investigação por forma a que, a médio e a longo prazo se possam implementar estratégias de investigação sustentáveis.

Quais os grandes desígnios e desejos da Academia Cardiovascular, a longo prazo, quanto ao impacto e resultados de uma formação na área da Investigação Clínica? 

Tendo em conta a produção científica do nosso país, e considerando o ambiente muitas vezes desfavorável à produção deste tipo de trabalhos em meio hospitalar, a SPC, numa das suas formas de intervenção social nesta área, quer fornecer, a um conjunto de pessoas interessadas na área, as ferramentas fundamentais para fazer investigação clínica de qualidade. Depois, naturalmente, estes projetos de investigação poderão ser apoiados por outras estruturas e iniciativas da SPC, a saber, por exemplo, as bases de dados do CNCDC, as bolsas que são distribuídas por altura do Congresso Português de Cardiologia e todas as outras estruturas que a sociedade tem: a revista, enquanto veículo de difusão científica e o congresso, enquanto veículo de apresentação dos resultados científicos preliminares ou definitivos. Portanto, a SPC quer afirmar-se com um pólo central na vida dos investigadores e da investigação na área cardiovascular em Portugal, quer como entidade formadora, quer como entidade financiadora, quer como veículo de divulgação da mensagem científica portuguesa.

Módulo 1

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