Academia Cardiovascular Promove Formação Em Cardiologia Nuclear

No dia 3 de novembro, o Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS), em Coimbra, foi palco do Curso de Cardiologia Nuclear, uma iniciativa da Academia Cardiovascular da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. A formação, coordenada pela Dr.ª Maria João Vidigal Ferreira e que contou também com a participação do Dr. Manuel Oliveira-Santos e o Dr. Rodolfo Silva, respetivamente cardiologista e especialista em Medicina Nuclear no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, foi destinada a 20 especialistas que quisessem aprofundar os seus conhecimentos nesta área.

Para além da apresentação de algumas noções básicas de física nuclear para aquisição e processamento da imagem, foram explicados os principais exames utilizados – SPECT e PET -, assim como as suas respetivas aplicações clínicas, nomeadamente, na função ventricular, na doença cardíaca isquémica, na inervação simpática, nas doença infiltrativas e na endocardite infeciosa.

Uma vez que o objetivo era demonstrar as potencialidades das várias técnicas de imagem de Medicina Nuclear (MN), o curso foi constituído por uma componente prática, onde os formandos puderam realizar exames de perfusão, e incluiu uma visita ao ICNAS. Na companhia do diretor do instituto, o Prof. Doutor Antero Abrunhosa, os participantes puderam avaliar as condições existentes que possibilitam a atividade assistencial e de investigação da instituição. A unidade de produção, que inclui um ciclotrão envolvido na produção de traçadores PET, a unidade clínica, composta por dois tomógrafos PET, e a unidade de investigação básica, que conta com um biotério para pequenos animais, um tomógrafo PET, bem como uma RMN para a aquisição de imagens em ratinhos foram os alvos desta visita.

A Medicina Nuclear é uma especialidade médica que aplica pequenas fontes de radiação ligadas a moléculas específicas, os radiofármacos, para estudar aspetos particulares do doente e da doença, numa perspetiva diagnóstica e terapêutica. Esses radiofármacos, que têm emissão radioativa, são absorvidos pelas células e detetados no exterior através de equipamentos especiais como câmara gama ou tomógrafo PET/TC, mas têm meias-vidas física e biológica curtas, de forma a serem rapidamente eliminados do corpo do paciente, não interferindo significativamente com os processos fisiológicos normais, o que torna o procedimento seguro.
Para além da aplicação à Cardiologia, estes exames são meios auxiliares de diagnóstico não-invasivos que apoiam outras especialidades, como a Ortopedia, Pediatria, Endocrinologia, Neurologia, Nefro-Urologia, Gastrenterologia, e têm especial impacto na Oncologia.

DISCURSO DIRETO | Dr.ª Maria João Vidigal Ferreira, coordenadora do Curso de Medicina Nuclear

Porque surgiu a necessidade de criar este curso de Cardiologia Nuclear (CN)?

As potencialidades das várias técnicas de imagem de MN que se dedicam à visualização de processos fisiopatológicos que afetam o coração e grandes vasos foram a base que condicionou a elaboração do programa. Apesar das limitações apontadas às técnicas de Cardiologia Nuclear, nomeadamente, a exposição a radiação ionizante e a resolução espacial, a verdade é que com o aparecimento de novas câmaras e com a utilização da tomografia de emissão de positrões (PET) estas limitações estão a ser progressivamente ultrapassadas.

Qual a importância da Cardiologia Nuclear no diagnóstico diferencial das patologias cardiovasculares?
Atualmente, são várias as aplicações destas técnicas em Cardiologia. A doença cardíaca isquémica, através da avaliação da perfusão miocárdica e função ventricular esquerda é a indicação mais importante da cintigrafia de perfusão miocárdica (Single Photon Emission Computed Tomography – SPECT). A PET pode também avaliar esta doença com menor exposição a radiação e superior resolução espacial. Nesta formação foi abordado também o contributo da Cardiologia Nuclear para o diagnóstico de endocardite infeciosa.

Sendo a insuficiência cardíaca uma das bandeiras desta direção da SPC, qual a aplicação da Cardiologia Nuclear neste domínio?

Na insuficiência cardíaca a contribuição da Cardiologia Nuclear centra-se na avaliação de viabilidade miocárdica, no diagnóstico diferencial de doenças infiltrativas como a amiloidose e a sarcoidose e na estratificação de risco de morte súbita. A utilização da imagem híbrida com a tomografia computorizada ou a ressonância magnética permite que os processos funcionais identificados
pela SPECT ou PET tenham a sua localização anatómica identificada.

Que outras patologias que podem ser identificadas com estes procedimentos?

Para além das aplicações clínicas, foram apresentadas algumas potencialidades da imagem molecular, área de convergência da biologia celular com a imagem, designadamente, na caracterização das placas ateroscleróticas e da doença valvular aórtica.

Quais as principais mensagens que gostaria que os participantes do curso tivessem retido?

A área de imagem não invasiva em Cardiologia é vasta e as indicações dos vários exames sobrepõem-se. Realçando as indicações e limitações das técnicas de Cardiologia Nuclear esperamos ter contribuído para escolhas mais assertivas face aos desafios clínicos da prática atual da Cardiologia.

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