Jennifer Silva

Imagiologia cardiovascular

Naturalidade: 

Porto, Portugal

 

Local De Trabalho:

King´s College of London

Estou a trabalhar fora de Portugal desde 2017. Inicialmente, mudei-me para a cidade de Oxford, no Reino Unido, onde trabalhei como “Research Fellow” em Tomografia Computadorizada (TC) Cardíaca na Universidade de Oxford. Em 2018, trabalhei para uma empresa canadiana que desenvolve sofware de pos-processamente de imagem cardiovascular (Circle) o que exigia viagens frequentes dentro do Reino Unido, Europa e America do Sul, pelo que me mudei para Londres. Em 2019, trabalhei em Boston, Massassuchets (EUA), como “Research Fellow” em Ressonância Magnética Cardíaca na Harvard Medical School/Beth Israel Deaconess Medical Center. Finalmente, desde 2020, estou a trabalhar no sistema nacional de saúde Británico (NHS) e desde aí passei por vários hospitais em Londres.

O principal motivo foi, sem dúvida, ter tido a possibilidade de fazer investigação numa universidade de excelência que me deu condições para obter resultados com impacto na área da imagem cardíaca. Eu simplemente submeti uma candidatura a uma vaga num grupo da Universidade de Oxford que tem o mesmo foco de investigação da minha tese de doutoramento (O tecido adiposo epicárdico). Fui selecionada para a entrevista juntamente com outros candidatos e tive a sorte de ser a escolhida para o lugar. Foi o inicio de um período muito importante e um ponto de viragem na minha vida profissional. Aprendi que tudo é possivel, basta termos a coragem de enviar o curriculum e prepararmo-nos bem para a entrevista. De entrevista em entrevista, vamo-nos preparando para o nosso trabalho de sonho.

Nos primeiros 3 anos fora de Portugal, trabalhei sobretudo como investigadora no Reino Unido e EUA; as minhas tarefas foram analisar imagem de TC ou ressonância cardiaca, fazer extração de dados, analisar os dados e escrever/publicar artigos científicos. Na curta passagem que tive pela industria médica, o meu papel foi treinar médicos como usar o sofware para análise de imagem cardíaca. Retomei à prática clínica no ano de 2020, mesmo antes da Pandemia. Comecei no Bart´s Heart Hospital (Londres) com um estágio (“Fellowship”) em Cardiopatias Congénitas do Adulto que obviamente devido à Pandemia foi intercalado com muitos turnos nos Cuidados Intensivos Cardíacos. Em 2021, fiz um estágio em ecografia transtorácica e transesofágica nos cuidados intensivos e bloco operatório no Royal Brompton Hospital (Londres) e de ecocardiografia de stress no St. George´s University Hospitals (Londres). Desde Abril de 2022 que trabalho como fellow em Ressonância Cardíaca no King´s College of London. Genericamente,
o meu trabalho envolve a preparação do doente, obtenção da imagem ou supervisão da aquisição, realização do relatório e discussão do resultado com o Consultant, supervisão e treino de colegas mais novos e apresentação de doentes em reuniões multidisciplianres.

Atualmente, como fellow Ressonância Cardíaca no King´s College of London, estou envolvida em projetos de avaliação da viabilidade do miocárdio e o impacto da revascularização na recuperação da função cardíaca. Como fellow em ecocardiografia de stress, contribuí para a seleção e recrutamento de doentes para o estudo EVAREST e para o estudo PROTEUS. Como investigadora da FMUP (Porto) e em parceria com o Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, estamos a desenvolver projetos na área da Radiomics (análise quantitativa da imagem) e as suas potenciais aplicações para optimizar o diagnóstico das doenças cardiovasculares.

Organização das rotina de trabalho. Relativamente à prática clínica, a organização das tarefas e distribuição de competências é melhor no NHS. Mas teria mesmo que o ser porque de outro modo a probabilidade de erro seria muito elevada tanto pelo numero de doentes como pela diversidade de profissionais de saúde. Só para dar ideia aproximada, Londres tem o mesmo número de habitantes do que Portugal e trabalham no NHS professionais de todos os paises da Europa, America do Sul e paises da Commonwealth. Sem dúvida que o volume de trabalho é maior no NHS e, frequentemente, sinto saudades do tempo em que eu e os meus colegas sabíamos de todos os doentes que estavam internados no serviço de Cardiologia.


Formação médica e progressão na carreira. No Reino Unido, a formação médica e progessão da carreira é verdadeiramente continua e acontece de forma quase automática. Sempre que mudamos de hospital, temos que fazer varios cursos online de treino e no decorrer do estágio ocorrem cursos de formação organizados pelo proprio hospital. A cada aniversário de contracto no NHS, há um pequeno aumento no salário.


Avaliação dos médicos. Apesar de ser trabalhoso, existe um processo de avaliação anual do médico (Appraisal) por um médico com quem nunca trabalhamos e uma revalidação a cada 5 anos para o General Medical Council (o equivalente à Ordem dos Médicos); o processo de avaliação tem por base a criação de um portfólio que descreve as atividades desenvolvidas ao longo do ano, uma avaliação anónima pelos colegas de trabalho e pelos doentes.


Tempo de qualidade e recursos para fazer investigação. Para quem quer fazer investigação, a principal vantagem é existir uma clara separação entre a actividade clínica e a de investigação tanto no que respeita às tarefas como das chefias e financiamento. É muito frequente (ou mesmo obrigatório), que os médicos façam investigação a 100% durante um determinado periodo da sua carreira, independemente de virem a ter uma carreira académica ou entrarem num programa de doutoramento.


Envolvimento dos médicos para melhorar o funcionamento do serviço. Finalmente, os médicos são envolvidos em processos de auditoria, que é uma atividade interessante que visa avaliar e melhorar os procedimentos internos de cada serviço.

Além das diferenças do ponto de vista da atividade profissional que mencionei na questão 5, outra grande diferença prende-se com as competências que são da responsabilidade do médico; por exemplo, a canulação de veias periféricas e algaliações são feitas por médicos e não por enfermeiros, pelo que eu tive que as aprender porque nunca tinha feito em Portugal. Outra diferença é o relacionamento com os colegas de trabalho. Em Portugal, o trabalho era uma fonte de bons relacionamentos que se extendiam para além do ambiente laboral. No Reino Unido isso é menos frequente, muito menos frequente, o que torna a vida mais séria. Além disso, é raro existirem comentários no local de trabalho acerca das eleições, decisões do governo, resultados de jogos de futebol; o assunto de conversa, é sempre acerca de trabalho. Existe obviamente uma enorme diversidade cultural dentro dos professionais do NHS e isso é muito enriquecedor.

Penso que de um modo geral, o trabalhadores portugueses da area da saúde são muito bem vistos e “desejados” no Reino Unido. Refiro-me sobretudo aos enfermeiros e os técnicos de ecocardiografia (cardiopneumologia), que são altamente bem preparados tecnica e teoricamente em comparação com os de outras nacionalidades. É sem dúvida um prazer e uma maior segurança para o médico ter portugueses na equipa de trabalho.

Mais do que iniciativas como esta que nos dão espaço para partilhar experiência, seria positivo se pudessemos “importar” algumas destas ideias de organização das rotinas de trabalho. Se tivessemos a capacidade de melhorar a organização da nossas instituições aliada à elevada competência tecnica de todos os profissionais de saúde que, como mencionei acima, é exceptional, teríamos condições para oferecer aos Portugueses o sistema nacional de saúde que merecem e ao qual têm direito.

Independentemente do país do mundo onde estiver a trabalhar, quero progredir no sentido de ter uma atividade profissional equilibrada que me permita conciliar atividade clínica e de investigação. Gostaria também de contribuir para melhorar o conhecimento doentes sobre a saúde/doença através das redes sociais ou de visitas a hospitais, por exemplo, nas salas de espera ou durante o internamento. E ainda de ter a oportunidade de levar conhecimento sobre saúde e prevenção de doença às escolas do primeiro ciclo.

Os meus pais foram emigrantes, eu nasci em Franca e parte da família ainda vive fora de Portugal. Ter saudades, e ter saudades de Portugal é um sentimento comum nas pessoas que me rodeiam. Depois de ter morado nos Estados Unidos, morar em Londres, já não me parece muito longe de Portugal. Mas tenho muitas saudades de muitas coisas. Da familia proxima, dos almoços com a familia mais alargada…Tenho muitas saudades de ver e sentir o Oceano Atlântico. Cresci em Viana, estudei no Porto e em Gaia, e ele estava sempre lá… Pode parecer estranho, mas não há praia em Londres!

Também tenho saudades do bom senso e empatia dos portugueses. Apesar das vantages de todos os protocolos que existem no Reino Unido, de um modo geral os portugueses têm um bom senso incrivel que mesmo sem protocolos ou guidelines nos facilita na tomada de boas decisões focadas na pessoa doente.


Considero regressar todos os dias e várias vezes por dia!

Temos que melhorar. Individualmente, somos tecnicamente bons e bons seres humanos, mas não funcionamos como grupo. Precisamos que os lugares de chefia sejam ocupados por pessoas que estudam administração em saúde, têm um plano de longo prazo e cumprem/monitorizam a concretização desse plano.

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