Novo estudo sobre Registo Nacional de Miocardiopatia Hipertrófica revela que mutações no gene MYH7 parecem predispor ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca

«O estudo fornece uma caracterização detalhada e previamente inexistente das causas genéticas de miocardiopatia hipertrófica em Portugal e descreve o facto de a presença de mutações em certos genes dever alertar para um fenótipo e prognóstico distintos.» Prof. Luís Rocha Lopes, autor do estudo.

Tendo por base os achados clínicos gerais do Registo Nacional de Miocardiopatia Hipertrófica, o estudo desenvolvido pelo Prof. Luís Rocha Lopes, e publicado no final de 2018 no International Journal of Cardiology, pretendeu ir um pouco mais além e relacionar esses dados com o prognóstico e estabelecer relações genótipo/fenótipo, nomeadamente no que se refere a genes sarcoméricos.

Este trabalho, um dos maiores estudos genéticos em miocardiopatia hipertrófica baseado num registo e o maior estudo português publicado sobre o tema, baseou-se numa análise exaustiva das variantes genéticas recolhidas para avaliar a patogenicidade. Os dados demográficos, clínicos, de imagem e de prognóstico foram analisados para associações com genótipo, com foco em comparações entre doentes com (G+) versus sem (G-) uma variante patogénica / patogénica provável num dos nove principais genes sarcoméricos causais.

Dos 1042 doentes envolvidos no registo, 528 (51%) tinham testes genéticos, dos quais 152 (28%) foram G+ e 98 (19%) tinham variantes de significância desconhecida. Dos que apresentavam os nove genes citados sequenciados, 14,6% apresentaram variantes patogénica/patogénica provável em MYBPC3, 8,7% MYH7, 4,5% TNNT2, 1,7% TNNI3. O genótipo foi associado ao local de nascimento; idade; história familiar de miocardiopatia hipertrófica; hipertensão; dor torácica; padrão de hipertrofia; hipertrofia ventricular esquerda no ECG; e história familiar de morte súbita cardíaca. Os doentes com G+ apresentaram mais frequentemente mais do que um fator de risco para morte súbita cardíaca e um maior score de risco para morte súbita cardíaca. Na análise de sobrevida, o G+ foi associado a morte súbita cardíaca e MYH7+ a disfunção sistólica do ventrículo esquerdo.

Convidado a comentar este trabalho, o Dr. Nuno Marques, coordenador do Grupo de Estudos de Doenças do Miocárdio e do Pericárdio (GEDMP), não hesitou em realçar o orgulho de ter um especialista português a publicar resultados tão relevantes para esta patologia. «É uma honra para o GEDMP ter alguém com a capacidade do Prof. Luís Lopes, que é já um dos investigadores mais cotados em termos internacionais na área da genética da miocardiopatia hipertrófica. Este estudo é mais um que prova a sua grande capacidade de trabalho e o seu elevado nível de conhecimento, que coloca o GEDMP da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e os seus investigadores e clínicos na vanguarda da investigação mundial.»

Enfatizando que a miocardiopatia hipertrófica é uma patologia com uma prevalência esperada bastante superior ao número de casos atualmente diagnosticados e que se associa a complicações relevantes, como a ocorrência da morte súbita em jovens, o Dr. Nuno Marques salienta a importância da existência do Registo Nacional de Miocardiopatia Hipertrófica, coordenado pelo Dr. Nuno Cardim. “Este registo resulta do esforço de todos os investigadores e clínicos nacionais, que despenderam do seu tempo e esforço para poder agora atingir resultados tão relevantes como os deste estudo. Como coordenador, agradeço o esforço realizado por todos os investigadores do Registo de Miocardiopatia Hipertrófica. Este e outros trabalhos só são possíveis com um trabalho em equipa e juntando os dados existentes em Portugal.”

Mais informações aqui

DISCURSO DIRETO | Prof. Luís Rocha Lopes

O que o levou a desenvolver este estudo?

Encontrando-se publicado o artigo principal, em que se descreveram os achados clínicos gerais do Registo Nacional de Miocardiopatia Hipertrófica, resolvi propor, na qualidade de membro da comissão executiva do Registo, uma análise detalhada dos valiosos dados de genética recolhidos, de forma a aumentar o conhecimento sobre a arquitetura genética desta patologia em Portugal e estudar possíveis relações entre esses dados e os restantes achados clínicos.

Qual foi o objetivo principal do mesmo?

Os principais objetivos foram: a caracterização do estado atual da utilização clínica do estudo genético na miocardiopatia hipertrófica em Portugal; após uma revisão exaustiva das variantes genéticas reportadas pelos investigadores, descrever os achados principais em relação a genes sarcoméricos; explorar e descrever associações genotipo-fenotipo-prognóstico. Este é um dos maiores estudos genéticos em miocardiopatia hipertrófica baseado num registo e o maior estudo português publicado sobre o tema.

Quais as principais conclusões que devemos realçar?

Metade da população do registo foi estudada geneticamente, o que é uma percentagem significativa, mesmo ao nível de estudos internacionais. Os doentes sarcomérico-positivos são caracterizados por uma demografia distinta, mas também por diferentes padrões de eletrocardiografia, características de imagem e história familiar. Um achado muito importante é o facto destes doentes se encontrarem em maior risco de morte súbita. Finalmente, os portadores de mutação num dos genes (MYH7) parecem ter maior predisposição para um padrão de evolução para insuficiência cardíaca, o que é também clinicamente muito relevante.

De que forma este estudo pode contribuir para uma alteração da abordagem a esta patologia no nosso país?

O estudo fornece uma caracterização detalhada e previamente inexistente das causas genéticas de miocardiopatia hipertrófica em Portugal e descreve o facto de a presença de mutações em certos genes deve alertar para um fenótipo e prognóstico distintos.

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