Sérgio Nabais

Cardiologista de Intervenção

Naturalidade: 

Porto, Portugal

 

Local De Trabalho:

Hospital de Bournemouth

Trabalho no Reino Unido há 8 anos, desde Abril de 2014. Depois de terminar o fellowship em Cardiologia de Intervenção no Hospital Clinic em Barcelona em 2011, trabalhei três anos no Hospital de Braga antes de me deslocar para Inglaterra

Ao contrário de outros colegas, saí não por motivos científicos ou académicos mas antes por motivos pessoais, para que a minha esposa pudesse continuar a desenvolver a atividade profissional na sua área, na impossibilidade de o conseguir fazer em Portugal. Simultaneamente, creio que a vontade de enfrentar um novo desafio numa altura da vida que via como ainda cedo para profissionalmente assentar amarras, me ajudou na mudança.

Sou Cardiologista de Intervenção (Consultant Interventional Cardiologist) em Salisbury (Salisbury NHS Foundation Trust) e tenho um contrato honorário (Honorary Consultant Interventional Cardiologist) no Hospital de Bournemouth (University Hospitals Dorset NHS Foundation Trust), ambos no Sudoeste de Inglaterra. Em Salisbury a minha atividade clínica é focada na área da doença coronária e intervenção coronária percutânea. A maioria do meu tempo clínico é dedicado à intervenção coronária percutânea, mas também tenho uma consulta semanal de Cardiologia Geral e durante uma semana a cada dois meses sou responsável pelos doentes internados na Cardiologia e Unidade Coronária. Sou ainda líder clínico e responsável pela equipa de clínicos especialistas (enfermeiros especialistas, internos de cardiologia, e trust grade doctors) que vê os doentes ambulatórios na Rapid Access Chest Pain Clinic (em que os doentes com suspeita de angina de peito / doença coronária têm de ser vistos em consulta hospitalar em menos de duas semanas) e que também fazem a avaliação especializada inicial de muitos dos doentes internados com suspeita de síndrome coronária aguda referenciados para Cardiologia. Sou também o líder clínico da equipa multidisciplinar de reabilitação cardíaca. Em Bournemouth sou parte da equipa de prevenção para ICP primária e ocasionalmente visito o hospital para treino dedicado em lesões complexas, como CTOs.

O principal projecto é a melhoria contínua do serviço de angioplastia coronária complexa, nomeadamente para os muito doentes idosos da região. Estamos a iniciar a oferta de aterectomia orbital, avaliação invasiva microvascular, e dispositivo de oclusão do seio coronário para os nossos doentes.
Depois de ter terminado o Master em economia da saúde, administração e outcomes em ciências cardiovasculares na London School of Economics, estou também a tentar desenvolver a minha atívidade de consultoria clínica para empresas.
Depois de um período bastante desgastante como líder clinico (clinical lead) dos laboratórios de cateterismo cardíaco em Salisbury entre 2017 e 2021, estou agora mais dedicado à minha atividade pessoal e fora da administração clínica do serviço. Durante esse período, para alem da introdução de técnicas especificas como a litotripsia intravascular em 2019, fizemos a renovação completa á dois laboratórios de hemodinâmica, integramos a compra de materiais com dois outros hospitais, treinamos todo o staff em técnicas complexas como a aterectomia rotacional permitindo a sua utilização a qualquer hora do dia, e introduzimos sessões de simulação clinica em complicações para o staff.

Acho que a principal vantagem está relacionada com a maior flexibilidade em gerir a ctividade hospitalar diária, permitindo um melhor equilíbrio com a vida familiar. Neste momento da carreira tenho direito a sete semanas de férias mais duas semanas de desenvolvimento pessoal (congressos, dias de treino, etc) por ano, o que permite não só a possibilidade de treinar técnicas específicas mas também estender interesses noutras áreas não diretamente relacionadas com a Medicina. A participação em estudos científicos (RCTs) está bem organizada. A maioria dos hospitais permite ainda a atividade privada no mesmo hospital, o que pode ser conveniente para muitos colegas, sem necessidade de se deslocarem para múltiplos locais. Como em muitos aspetos da vida, o trabalho hospitalar no Reino Unido tem vantagens e desvantagens. A atividade diária é frequentemente muito intensa, com responsabilidade sénior por muitos doentes em simultâneo.

Saí de Portugal há tempo suficiente para não estar na melhor posição para fazer comparações uma vez que o sistema em Portugal terá entretanto sofrido algumas mudanças. O NHS (sistema nacional de saúde em Inglaterra) está muito centrado na custo-eficiência. A recomendação para a comparticipação de novos medicamentos ou técnicas de intervenção baseia-se principalmente em complexas análises de custo-eficiência pela NICE. Em certos casos a decisão leva a boas revoluções nos cuidados médicos como por exemplo a recomendação para o uso primário de TAC das coronárias na avaliação inicial de quase todos os doentes com suspeita de doença coronária estável. No entanto, noutras situações, as recomendações falham por incapacidade de apreciar o impacto clínico global, como o é o caso do draf inicial na NICE para a recomendação de técnicas percutâneas para o tratamento de doença valvular. A atividade clínica no NHS é menos centrada no médico e mais centrada em equipas multidisciplinares e task shifting. Por exemplo, muitas actividades clínicas são desenvolvidas por enfermeiros especialistas e supervisionadas por médicos consultores. Todas as especialidades e no caso da Cardiologia as subespecialidades, têm reuniões multidisciplinares (MDT) semanais de uma hora para discussão de casos, envolvendo os cirurgiões cardíacos. O tempo dedicado pelos médicos ao contacto clinico direto com doentes tende também a ser mais intenso, o que leva a um maior desgaste mas permite tempo não clinico dedicado ao desenvolvimento pessoal. Os médicos tem uma secretária clinica para digitar as cartas, o que poupa algum tempo ao teclado no computador, e lidar com os telefonemas dos doentes. O treino dos internos de Cardiologia tende a ser mais longo que em Portugal principalmente por mais tempo ser dedicado inicialmente à Medicina Interna, mas também porque muitos tiram tempo fora da actividade clinica para fazer investigação, conseguir algum tipo de diploma (pós-graduação), e melhorar as perspetivas para conseguir o trabalho que querem como consultor hospitalar. A maioria dos Cardiologistas também faz um ou dois anos de fellowship numa da subespecialidades. A investigação clinica em Cardiologia no Reino Unido é mais estruturada, formalizada e financiada, do que em Portugal.

Em geral a Cardiologia Portuguesa é vista com bons olhos e creio que não existem dúvidas com respeito ao nível elevado da qualidade e da formação em Cardiologia em Portugal. No entanto, a maioria dos colegas no Reino Unido provavelmente não tem opinião especifica por falta de visibilidade da actividade científica ou contacto com colegas portugueses.

Acho que a SPC deve tentar ajudar os colegas que saem do país a manter o contacto com a Cardiologia Portuguesa. Talvez desenvolver uma plataforma de troca de experiências, online ou durante o congresso português de Cardiologia fosse uma ideia interessante.

Nos próximos 5-10 anos, assim que as crianças cresçam, planeio dedicar mais tempo à administração clinica e hospitalar, participação em mais ensaios clínicos, e talvez dedicar tempo à intervenção percutânea não coronária.

Saudades da família e amigos. Sempre considerei a possibilidade de regressar, embora à medida que os filhos estão incluídos no sistema escolar se torne mais difícil mudar novamente. Tenho alguns interesses fora da Medicina que gostava de desenvolver em Portugal ou em Espanha, provavelmente depois de deixar a atividade hospitalar.

Continuar o bom trabalho ao serviço dos doentes portugueses com doenças do coração, ao nível do que melhor se faz no resto da Europa. Aos mais jovens, diria que invistam na sua formação e treino porque anos mais tarde esse esforço dará os seus frutos.

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