“Ao possibilitar o contacto com a realidade, este registo funcionará sempre como um estímulo de melhoria e como uma forma de perceção para o que ainda falta fazer.” Dr. Miguel Mendes, coordenador do RNRC.
“Pretende-se obter dados concretos da realidade epidemiológica nacional, avaliar a performance clínica, gerir o processo clínico, promover a investigação clínica uni ou multicêntrica, bem como fomentar a auditoria de indicadores de qualidade custo-eficácia, permitindo melhorar a prestação deste serviço e promover a uniformidade de procedimentos.” Dr. José Paulo Fontes, coordenador do GEFERC.
Desde há vários anos que o Grupo de Estudos da Fisiopatologia do Esforço e Reabilitação Cardíaca (GEFERC) pretende implementar um Registo Nacional de Reabilitação Cardíaca em Portugal (RNRC). Depois de terem sido esclarecidas e acertadas várias questões funcionais, finalmente é possível tornar este RNRC uma realidade, podendo avançar de uma forma estruturada e organizada.
“Considerando o GEFERC da máxima importância a existência de um Registo sobre a realidade nacional da Reabilitação Cardíaca, entende também que o processo de criação e implementação do mesmo devia ser rodeado da máxima transparência e objetividade”, explica o Dr. José Paulo Fontes, coordenador do GEFERC. Assim, após solicitação, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia aprovou a criação do RNRC a ser inserido no Centro Nacional de Coleção de dados da Cardiologia (CNCDC) sob a tutela da coordenação do GEFERC.
Como elucida o coordenador do GEFERC, “este registo pretende envolver todos os Centros que tenham Reabilitação Cardíaca, públicos ou privados, que cumpram as normas de funcionamento adequadas de acordo com as orientações nacionais e de boas práticas, e que estejam interessados em participar e possam colaborar ativamente”.
Na prática, “pretende-se obter dados concretos da realidade epidemiológica nacional, avaliar a performance clínica, gerir o processo clínico, promover a investigação clínica uni ou multicêntrica, bem como fomentar a auditoria de indicadores de qualidade custo-eficácia, permitindo melhorar a prestação deste serviço e promover a uniformidade de procedimentos”, concretiza José Paulo Fontes. Simultaneamente, o RNRC ai também permitir a perceção e a avaliação da realidade nacional comparativamente com a internacional.
Este registo irá obedecer aos princípios éticos vinculativos do CNCDC, nomeadamente na facultatividade da participação, confidencialidade e segurança dos dados, bem como do sigilo médico e científico, com regras de acesso aos dados e de propriedade intelectual /autoria bem definidos.
O RNRC será gerido por uma comissão nomeada pelo GEFERC e que terá a duração de 4 anos, podendo os seus elementos serem renomeados com inclusão sempre do coordenador do GEFERC. Como médico com reconhecido mérito não só na Cardiologia mas também nas outras especialidades que colaboram nas equipas de reabilitação cardíaca e sendo um nome consensual entre todos, o Dr. Miguel Mendes foi o nome escolhido para coordenar esta comissão.
Entrevista, o Dr. Miguel Mendes explica mais em pormenor as mais-valias deste registo.
DISCURSO DIRETO | Dr. Miguel Mendes, coordenador do Registo Nacional de Reabilitação Cardíaca
De que forma este registo pode contribuir para uma melhoria da prática clínica cardiológica em Portugal?
Este registo é muito importante porque vem possibilitar contabilizar a atividade da reabilitação cardíaca a nível nacional, de uma maneira periódica e permanente. Até este momento, os dados eram obtidos apenas através de inquéritos realizados de 4 em 4 ou de 5 em 5 anos, o que significa que não estão perfeitamente atualizados. Com o Registo Nacional de Reabilitação Cardíaca passaremos a ter dados anuais de todos os centros que estiverem envolvidos e que, esperamos, sejam todos os que existem no país, tanto públicos, como privados, liderados por cardiologistas ou por médicos de Medicina Física e de Reabilitação. Portanto, isto permitirá ter dados fidedignos de norte a sul do país.
Este registo já fazia falta no panorama da Cardiologia nacional?
Sim, porque vamos conseguir monitorizar a melhoria da nossa atuação. Teoricamente, defende-se o conceito de que devemos atingir, no mínimo, 30% da população potencial e a verdade é que, conforme dados de 2013 publicados em 2016, só atingimos 8% dos casos de enfarte. Assim, só o facto de haver um registo já chama a atenção para essa situação e, ao possibilitar o contacto com a realidade, funcionará sempre como um estímulo e uma forma de perceção para o que ainda falta fazer.
Que outros indicadores de qualidade podem resultar deste registo?
Podemos desde logo deduzir a percentagem de doentes que são referenciados e o tempo que essa referenciação demora. Por outro lado, outro parâmetro importante é o tempo que medeia entre o acidente agudo e a admissão no programa, que deve ser inferior a um mês e, idealmente, até duas semanas. Na prática, através deste registo será possível registar toda esta informação e comparar os centros entre si, o que é muito positivo porque proporcionará a cada centro fazer uma autoanálise do seu desempenho tanto a nível de organização, como de resposta e de volume de trabalho.