Filipa Valente

Cardiologista, imagem cardiovascular

Naturalidade: 

Lisboa, Portugal

Local De Trabalho:
Hospital Vall d’Hebron, Barcelona

Vim para Barcelona em Setembro de 2014, até me custa acreditar que já passaram sete anos!

Quando acabei a especialidade quis dedicar-me à área da Imagem Cardiovascular (ecocardiografia, RMe TC). Isto seria possível em muitos centros em Portugal mas não de uma forma dedicada que penso ser importante na fase inicial da sub-especialização ao permitir uma mais rápida curva de aprendizagem. Durante o internato tinha já realizado dois estágios de imagem no estrangeiro muito proveitosos pelo volume de doentes/patologias, pela qualidade pessoal e profissional dos colegas com quem trabalhei e naturalmente pela experiência sempre diferente que estes estágios proporcionam. Ao terminar a especialidade decidi por isso fazer um ano de formação exclusiva e remunerada em Imagem Cardiovascular no Hospital Vall d’Hebron.

Um ano de formação transformou-se rapidamente em sete e actualmente sou Adjunta de Cardiologia (assistente hospitalar) no Serviço de Cardiologia do Hospital Vall d’Hebron, com funções no laboratório de ecocardiografia, consulta externa e também na RM e TC em estreita colaboração com a Radiologia. Além da actividade clínica, encoraja-se também a investigação, seja com a participação em estudos multicêntricos nacionais e internacionais (onde a imagem é cada vez mais incontornável), seja no desenvolvimento de linhas de investigação próprias e do serviço, e na realização do Doutoramento.

Depois de vários anos dedicados exclusivamente à Imagem, há um ano e meio que voltei à prática clínica na consulta, algo que sempre gostei muito e este regresso têm-me dado muito prazer. Na área da imagem, os principais projectos do nosso departamento centram-se no estudo da patologia da aorta (com projectos de 4D-flow em estreita colaboração com engenheiros do nosso serviço), da cardiopatia isquémica e das miocardiopatias. Nesse sentido, a minha principal linha de investigação consiste no estudo da deformação miocárdica por ressonância magnética na cardiopatía isquémicana miocardiopatia arritmogénica e na cardiopatía congénita em particular nos doentes com Tetralogia de Fallot. Com algum atraso, iniciámos também agora vários projectos que exploram o T1 mapping na cardio-oncologia, valvulopatias e cardiopatías congénitas.

As semelhanças culturais entre Portugal e a Catalunha, assim como as semelhanças de idioma (sendo que quando vim pela primeira vez não falava nem castelhano nem catalão) facilitam muito a integração intra- e extra-hospitalar. Além disso, Barcelona é uma cidade que recorda muito Lisboa (onde nasci), embora mais organizada, com excelente sistema de transportes, fácil acesso a todos os bens e às inúmeras actividades culturais e ao ar livre. O sistema de saúde é também semelhante, possivelmente tendo começado com alguns anos de avanço no que se refere à complementaridade entre o sistema público e privado. Em termos profissionais, trabalhar num grande centro permite o fácil acesso a todos os exames complementares de diagnóstico e sobretudo a profissionais de reconhecido valor internacional em todas as áreas, não só da Cardiologia mas também das outras especialidades. Um dos aspectos mais interessantes do dia-a-dia são as reuniões multi-disciplinares onde além do elevado nível científico transpira um grande respeito e consideração pelo conhecimento e opinião de cada especialista e sub-especialista.

Existe uma informalidade no tracto entre os vários colegas que não reflecte nenhum desrespeito ou desconsideração mas sim uma elevada acessibilidade e confiança nos conhecimentos e na área que cada um domina, aceitando-se ao mesmo tempo e com naturalidade que tenha dúvidas nas áreas com as quais não lida habitualmente. Possivelmente será uma consequência do elevado grau de sub-especialização (incluindo da cardiologia clínica) e permite um dos aspectos que considero mais positivos: a facilidade de discussão de casos e esclarecimento de dúvidas, das mais básicas às mais complexas entre todos os colegas, desde o estudante de Medicina, interno de primeiro ano ou o engenheiro até ao chefe de departamento ou de serviço. O conceito e um quase ”dever” de docência está muito presente no dia-a-dia. Outro aspecto positivo é a elevada procura para formação clínica e em investigação por fellows sobretudo da América do Sul, de Itália e também da Holanda, que permite um constante intercâmbio de ideias e experiências, estimula uma actualização científica constante e contribui para o excelente ambiente de trabalho. Naturalmente que nem tudo são rosas: a semelhança com o sistema público português significa que também aqui existe uma sobrecarga assistencial considerável, com tempos de espera excessivos e é muito infrequente dispor de um período de trabalho dedicado à investigação. Um outro aspecto negativo é que, por haver muita procura para formação, os contratos de trabalho são algo precários, dependentes de bolsas de investigação e de contratos de urgências.

São conhecidas as principais referências nacionais pelos especialistas de cada área, talvez não tanto o trabalho desenvolvido por cada centro. Em particular, na área da Imagem, sobretudo na RM e TC, o meio é pequeno, os contactos constantes e esta relação é também favorecida pelas várias iniciativas “ibéricas”, em projectos de investigação, reuniões e candidaturas a cargos na ESC. No meu centro, a cardiologia portuguesa é cada vez mais valorizada graças à excelente representação de todos os internos, e também dos assistentes que vêm por uma ou duas semanas, que repetidamente dão provas do elevado nível de formação académica, de bom-senso clínico e de capacidade de relação interpessoal.

Além dos contactos pessoais que todos mantemos, a SPC é a ponte que nos permite um contacto alargado com toda a comunidade da Cardiologia portuguesa. Penso que tem feito um bom trabalho em manter este contacto, ao promover os prémios e méritos dos colegas no estrangeiro e ao facilitar a realização de estágios de internos em centros de referência fora de Portugal.

De tudo! Da família, dos amigos, de todos os profissionais do Hospital de Santarém (onde me formei) e até dos doentes! Da comida, do ar e do mar (não há como a água “fresquinha” das nossas praias do Atlântico). Regressar… é desde o segundo ou terceiro dia um pensamento recorrente e um desejo sempre presente!

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