Estratégias de publicação em análise no 4.º módulo do Ciclo de Formação Avançada em Investigação Clínica

«A grande mais-valia deste ciclo de formação é o desenvolvimento de competências técnicas e cognitivas que permitam aos jovens cardiologistas não só implementar estudos a nível local, mas também perceber que a ciência se faz de networking», Prof. Rui Baptista, coordenador do Ciclo de Formação Avançada em Investigação Clínica

Num balanço do módulo 3 do Ciclo de formação avançada em investigação clínica, que decorreu no passado mês de fevereiro, o Prof. Rui Baptista lembra que esta edição se focou no papel da indústria farmacêutica enquanto entidade patrocinadora de projetos de investigação de iniciativa do investigador. Nesse sentido, o módulo contou com a participação da equipa do departamento médico da Bayer para ajudar a perceber de que forma os médicos podem fazer propostas que sejam interessantes para a indústria, permitindo-lhes ter sucesso no seu financiamento, seja no âmbito de estudos observacionais simples ou trabalhos mais complexos, como ensaios clínicos aleatorizados.

«No final das sessões, os internos tiveram a oportunidade de delinear uma proposta para apreciação da equipa técnica da Bayer, o que permitiu uma troca de experiências e dicas muito interessante», confirmou o coordenador.

Do encontro fez também parte uma introdução a outra metodologia de investigação, as revisões sistemáticas e as meta-análises, apresentada pelo Prof. Daniel Caldeira, um dos autores mais profícuos nesta área em Portugal, que partilhou algumas dicas sobre como fazer boa investigação. Esta apresentação culminou numa demonstração prática de pesquisa em bases de dados médicas que foi muito apreciada pelos participantes.

Por fim, esteve ainda presente o vice-reitor da Harvard Medical School e coordenador do programa Clinical Scholars Research Training, Dr. Ajay Singh, com uma palestra intitulada Como publicar um artigo sendo um clínico. «Trata-se de um palestrante de alto nível, nefrologista e investigador clínico com várias publicações no The New England Journal of Medicine, que veio falar da sua experiência como autor e como investigador principal de estudos multicêntricos, focando também as dificuldades e desafios que teve em «convencer» indústria que os seus estudos eram interessantes para serem alvos de investimento.

Em entrevista, o Prof. Rui Baptista enfatiza a importância desta iniciativa e levanta o véu sobre o que se pode esperar do módulo 4, que decorrerá no dia 26 de abril, em Vilamoura, no âmbito dos cursos pré-congresso da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

Seguem-se também duas entrevistas a dois participantes do ciclo, que explicam o contributo deste projeto para a sua formação.

DISCURSO DIRETO | Prof. Rui Baptista, coordenador do Ciclo de formação avançada em investigação clínica

O que podemos esperar para o módulo 4?

Teremos entre nós o Dr. Anthony DeMaria, que foi presidente do American College of Cardiology e editor do JACC, uma das personalidades com maior experiência na publicação mundial, que vai ministrar um curso de publishing, que será partilhado com um curso pré-Congresso Português de Cardiologia, em parceria com o Dr. Tiago Villanueva, editor da Acta Médica Portuguesa, o Prof. Lino Gonçalves, editor da Revista Portuguesa de Cardiologia, e a Dr.ª Helena Donato, bibliotecária e uma das pessoas que mais sabe sobre publicação em Portugal. O programa contará ainda com algumas sessões clínicas.

Numa altura em que a Medicina Baseada na Evidência assume um papel cada vez mais importante na prática clínica, qual o impacto deste Ciclo de formação avançada em investigação clínica?

A ideia é fornecer aos cardiologistas ferramentas robustas de investigação. É esta a grande ideia que serve de suporte a este curso. Além disso, pretende-se expor os internos ao contacto com vários investigadores com provas dadas para que possam aprender e até partilhar alguns projetos, o chamado networking.

De que forma a Cardiologia e os jovens cardiologistas nacionais têm a ganhar com esta iniciativa?

O grande ganho é o desenvolvimento de competências técnicas e cognitivas que lhes permitam implementar estudos a nível local, mas também perceber que a ciência se faz de networking.

DISCURSO DIRETO | Dr. Guilherme Amorim, Clinical Research Fellow, Division of Cardiovascular Medicine-Radcliffe Department of Medicine, University of Oxford

Que balanço faz da participação neste 3.º módulo?

Um balanço extremamente positivo, particularmente pela presença do Dr. Ajay Singh, vice-reitor da Harvard Medical School e diretor do programa Portugal Clinical Scholars Research Training, e pelo testemunho trazido por investigadores de relevo da Cardiologia portuguesa, como é o caso da Prof.ª Ana Teresa Timóteo e do Prof. Daniel Caldeira. Destaco ainda o elevator pitch de propostas para financiamento por bolsas da indústria farmacêutica, desenvolvido com representantes da Bayer Portugal, que permitiu um contacto próximo e uma partilha de perspetivas com atores por vezes desconhecidos do panorama da investigação clínica.

Que aspetos destacaria como os que mais contribuíram para a sua formação nesta área?

Há um contacto com os princípios fundamentais da investigação clínica durante a formação pré-graduada, mas a partir desse momento a aprendizagem parece ser feita muito numa perspetiva de do it yourself, por tentativa-erro, e sem vias bem estabelecidas, o que limita, necessariamente, a qualidade dos projetos desenvolvidos desta forma. Num momento em que a Medicina Baseada na Evidência (e, seguidamente, a Medicina Personalizada) assumem um papel cada vez mais importante na prática clínica, parece-me ser crucial um maior investimento por parte das Escolas de Medicina em formação nos fundamentos e metodologia de investigação clínica, assim como avaliação crítica de evidência. Nesse sentido, é importante o trabalho que tem sido desenvolvido pelo programa Portugal Clinical Scholars Research Training, da Harvard Medical School, que é bastante competitivo e restrito a um reduzido número de participantes, e, por isso, insuficiente para as necessidades formativas das gerações de jovens médicos. Na perspetiva de permitir um acesso mais generalizado a formação nesta área, destaco o curso Blended Learning Introduction to Clinical Studies (BLICS), promovido pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que cobre de forma aprofundada e estruturada muitos dos fundamentos da investigação clínica, assim como o curso/certificação Clinical Investigator Certification (CLIC), responsabilidade da PtCRIN em conjunto com a Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de Aveiro, e que permite obter online a certificação em Boas Práticas Clínicas (Good Clinical Practice – GCP)

Qual a mais-valia deste ciclo para a sua formação?

A mais-valia deste ciclo reside precisamente na oportunidade de facultar aos jovens médicos da área da Cardiologia um programa estruturado de treino nos fundamentos da investigação clínica, conduzido por quem a desenvolve ao mais alto nível em Portugal. Uma das maiores qualidades deste ciclo é a possibilidade de networking e de criação de pontes de contacto com grandes vultos da investigação clínica mundial, assim como com jovens médicos portugueses que se destacam pela qualidade da investigação clínica que desenvolvem, e dessa forma permitir a partilha da sua experiência e da sua visão. Acredito que a chave para alargar este sucesso reside na formação dos mais jovens e na partilha do know-howexistente, aproveitando o entusiasmo dos primeiros e a experiência de quem produz investigação clínica de qualidade mundial. É este contacto próximo que permite estimular a geração mais jovem e mostrar-lhe que é possível enveredar por uma carreira académica de excelência, que permita a produção de investigação de qualidade e com relevo para o exercício da prática clínica.

DISCURSO DIRETO | Dr.ª Ana Neto, 3.º ano de internato no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa

Que balanço faz da participação neste 3.º módulo?

O balanço é claramente positivo. Aliás, não só do 3.º módulo, mas do ciclo de formação em geral, já que os módulos se têm completado progressivamente.

Que aspetos destacaria como os que mais contribuíram para a sua formação nesta área?

Acima de tudo, o conhecimento à cerca da variedade de opções existentes no campo da investigação clínica e o acesso a alguns dados que poderemos vir a trabalhar (nomeadamente os registos nacionais). Foram-nos apresentadas várias pessoas com à vontade nas diversas áreas e que se mostraram muito disponíveis para nos orientar. Além disso, tenho desenvolvido a capacidade de trabalhar em grupo (neste caso, trabalhar em grupo à distância), que nos dias que correm se torna crucial.

Qual a mais-valia deste ciclo para a sua formação?

Seria redutor limitar apenas a um aspeto. Neste ciclo tenho aprendido bastante e tive o privilégio de ouvir e dialogar com pessoas realmente inspiradoras. Mais ainda – o facto de o grupo de trabalho ser relativamente pequeno torna-o particularmente especial: é constituído por pessoas altamente motivadas, em diferentes momentos do seu internato, com quem tenho tido a oportunidade de trabalhar de forma a desenvolver projetos futuros que, se tudo correr como planeamos, se materializarão a curto-médio prazo.

Texto elaborado pelo Gabinete de Comunicação SPC

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