Prof. Victor Gil revela algumas das bandeiras e valores que irá abraçar enquanto Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia

“Vejo no desenvolvimento de um programa de qualidade uma ferramenta de apoio a esta relação e o desenhar de um caminho no qual deveremos envolver a comunidade e a própria tutela, servindo como mapa para um conjunto de decisões que se medem pelo rigor científico. Esta é, a meu ver, uma forma de poder intervir na sociedade, não competindo na esfera dos políticos, mas apontando caminhos que podem suportar a tomada de medidas que possam contribuir para a melhoria da saúde cardiovascular dos portugueses. As nossas bandeiras serão sempre independência, objetividade, rigor e verdade científica.”  No dia após assumir a presidência da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, o Prof. Victor Gil faz uma antevisão do que se poderá esperar do seu mandato no biénio 2019/2021.

Qual o grande desafio que espera encontrar ao assumir a presidência da SPC? 

Na verdade, e uma vez que já tenho participado na vida organizativa e diretiva da SPC há alguns anos, estou a par da dinâmica desta sociedade. Ao entrar na direção da SPC encontramos uma estrutura já existente e depende de nós perceber o que pode ser melhorado. E será isso que irei fazer.

Para tal, estou muito bem acompanhado por um quinteto de mulheres extraordinárias, a Profª Ana Teresa Timóteo, secretária-geral, a Dr.ª Regina Ribeiras e a Dr.ª Brenda Moura, presidentes da comissão científica dos congressos, a Prof. Cristina Gavina, que manterá a Direção da Academia, a Profª Natália António, tesoureira, e por um quinteto de homens não menos notáveis, o Dr. Jorge Ferreira que será o coordenador científico da SPC, o Dr. Eduardo Infante de Oliveira, que assegurará a ligação aos Grupos de Estudo e Associações, o Dr. José Aguiar, que fará a ligação aos Serviços e centros não académicos, o Prof. Rogério Teixeira, que será responsável pela ligação à juventude, e o Prof Mário Santos, que co-coordenará os programas científicos. Notaria ainda que há duas senhoras na vice-presidência, a Dr.ª Regina Ribeiras e a Profª Cristina Gavina, que acumulam com as funções já referidas.

É uma equipa por quem tenho a maior estima e admiração: um grupo fantástico que me vai ajudar a fazer desta uma missão que nos deverá deixar a todos melhores cardiologistas e melhores pessoas. Vamos, sobretudo, apostar numa linha de continuidade e tentar manter o nome, o prestígio e o nível que a direção cessante, composta por pessoas de uma enorme categoria, alcançou.

Mas, o que sinto é uma verdadeira honra por poder servir e tentarei fazê-lo no limite das minhas energias e das minhas capacidades, movido por este gosto de servir que me caracteriza. Diria que, mais do que estar orgulhoso por presidir a SPC, sinto-me gratificado pela confiança que os meus colegas depositaram em mim e sinto uma grande responsabilidade em corresponder a esse desafio. Vejo a SPC como um bem de todos e, por isso, dependerá de todos fazer o melhor possível.

Em que pilares irá assentar o seu mandato?

Diria que a principal linha condutora da nossa atuação será a qualidade, ou seja, vamos desafiar todas as estruturas da SPC a caminharem connosco num ambicioso programa que tem por objetivo definir critérios de qualidade e monitorizá-los em áreas piloto. Isto vai concretizar-se desde logo com uma reunião dentro de poucos dias com os secretariados dos Grupos de Estudo e Associações, onde lhes será pedido que nomeiem delegados que constituirão um plenário de delegados que terá como objetivo trabalhar esses critérios de qualidade nas várias áreas, de acordo, evidentemente, com as indicações que serão dadas pelos nossos responsáveis da parte científica. Alguns meses depois, toda esta informação será recolhida e seguir-se-á a elaboração desses critérios de qualidade que, nos casos adequados, apresentaremos à sociedade civil e à tutela. No fundo, o objetivo da SPC vai ser apontar caminhos.

Na nossa opinião, a sociedade científica deve, não tanto dizer como os caminhos devem ser percorridos, isso estará a cargo de políticos e de outros elementos decisores, mas sim indicá-los. Dessa maneira, pugnar pelo cumprimento desses caminhos será a nossa forma de intervenção cívica.

Em termos concretos, isso traduzir-se-á como? 

Quanto à área científica e formativa, não quero desvendar nada de muito concreto porque quero deixar essa revelação para uma figura que não está prevista nos estatutos, mas que nos parece fundamental numa sociedade científica: o coordenador da área científica, cuja função será assumida pelo Prof. Jorge Ferreira e que terá um estatuto semelhante ao de um vice-presidente. Posso adiantar que no dia 11 de maio teremos uma reunião para discutir exatamente estes pontos, juntamente com os Grupos de Estudo e Associações da SPC e é nessa altura que vamos então lançar o projeto, acompanhados também pelo Prof. Mário Santos, vogal da Delegação Norte da SPC.

Após esta reunião, será definido um conjunto de recomendações e será nomeado um plenário de delegados que terá como missão elaborar um conjunto de critérios de qualidade relacionados com diversas abordagens úteis à prática clínica, que vão desde o diagnóstico e gestão, ao tratamento, entre outras. Há recomendações já padronizadas do ponto de vista internacional que podem e devem ser adaptadas ao nosso contexto e corretamente aplicadas. O que ainda não está padronizado espera de nós um maior empenho e esse é um desafio que gostaríamos de assumir e lançar aos mais jovens, até porque o mais provável é que continue por muito mais tempo e não se encerre ao fim de dois anos.

Outro dos critérios que penso que poderão contribuir para a qualidade, porque assenta no pressuposto da continuidade, é o nosso desejo de envolver nas decisões que se prevejam mais estruturais e estruturantes o Presidente-Eleito da SPC, o Prof. Lino Gonçalves. Por outro lado, também há decisões de alguma maneira estruturais que não gostaria que esta direção tomasse sem ouvir a opinião dos presidentes anteriores, pelo que vamos reativar um conselho honorário, de quem pretendo escutar a opinião antes de tomar determinadas decisões.

Que outras novidades se podem esperar?

Temos, por exemplo, uma ideia para um projeto de educação de crianças em idade escolar ou pré-escolar; pensamos na hipótese de retomar uma campanha que já existiu há algum tempo sobre doença coronária na mulher; e temos a intenção de vir a realizar um fórum relativamente a uma temática subordinada à sustentabilidade, inovação, futilidade e redundância, isto é, colocar estas quatro linhas em confronto e perceber como se consegue gerir estes quatro conceitos.

Em relação a aspetos mais organizacionais, a constituição da direção pauta-se por elementos jovens, que já deram provas daquilo que são capazes de fazer, mantendo, aliás, o alto nível das direções que nos têm precedido. Decidimos também criar alguns gabinetes de apoio que, a luz do que está previsto nos estatutos, funcionarão como comissões temporárias e que analisaremos se, no futuro, faz sentido evoluírem para comissões permanentes.

Neste sentido, será criado um gabinete de comunicação, que nos irá ajudar a coordenador todos os aspetos relacionados com a comunicação interna e externa; um gabinete de relações exteriores, que nos irá ajudar nas relações internacionais; um gabinete de estudos, que será, talvez, dos aspetos mais inovadores, que irá refletir sobre algumas temáticas e fornecer informação atualizada à direção e, provavelmente, também desenvolver algum trabalho próprio, no âmbito da saúde cardiovascular dos portugueses. Por outro lado, iremos remodelar a comissão de ética, uma área que valorizamos muito e que queremos que seja uma estrutura viva e atuante, com pensamento próprio e protagonismo.

E em relação à comunicação interna da SPC?

Gostaríamos muito de dar voz à SPC no total, ou seja, que todos os Serviços de Cardiologia do país tivessem oportunidade ao longo do ano de mostrar o que fazem, o que pensam e o que querem fazer. Aliás, e à semelhança do que já tem acontecido noutros mandatos anteriores, um dos membros da direção da Sociedade é um colega que trabalha num hospital fora de Lisboa que terá a responsabilidade de articulação aos centros menos litorais. O objetivo é conhecermo-nos todos um pouco melhor e sabermos o que cada equipa está a desenvolver nos seus locais de trabalho. Na prática, tudo isto são estruturas que vão funcionar ao lado da direção, mas que vão ampliar a capacidade de intervenção da SPC.

Gostaria ainda de acrescentar que temos grandes sonhos relativamente à Academia Cardiovascular e ao CNCDC que esperamos conseguir concretizar ou, pelo menos, lançar as bases da sua concretização.

Ainda em termos organizativos, iremos, através de uma empresa especializada, contratar um gestor para a SPC (o respetivo perfil está já definido), e nas áreas de maior complexidade técnica, como a informática e a gestão dos nossos recursos, vamos ter ajudas externas e independentes de pessoas que conhecemos, altamente diferenciadas nessas áreas e que se prontificaram para auditar e nos aconselhar.

As direções anteriores têm visto na tutela uma forma de promover mudanças no país quanto ao acesso e democratização da saúde. O que podemos esperar da sua direção neste aspeto?

A SPC é a detentora da informação científica correta e verdadeira. Neste sentido, é fundamental que nos posicionemos como portadores da independência científica e seria importante que a tutela pudesse tirar partido de uma relação mais próxima com a SPC e nos visse como sua consultora. O diálogo entre a SPC e a tutela será sempre privilegiado e teremos todo o gosto em poder, assim, contribuir para decisões mais informadas.

Vejo no desenvolvimento de um programa de qualidade uma ferramenta de apoio a esta relação e o desenhar de um caminho no qual deveremos envolver a tutela, servindo como mapa para um conjunto de decisões que se medem pelo rigor científico. Esta é, a meu ver, uma forma de poder intervir na sociedade, não politizando a nossa atuação, mas apoiando a tomada de políticas que possam contribuir para a melhoria da saúde cardiovascular dos portugueses. As nossas bandeiras serão sempre independência, objetividade, rigor e verdade científica.

Que linhas de continuidade serão seguidas?

Cada direção e cada sociedade tem uma agenda e uma linguagem própria, mas existem uma série de linhas de continuidade que gostaria de sublinhar. Quanto a projetos importantes que foram, por exemplo, a bandeira desta última direção, como foi o caso da insuficiência cardíaca, não vão cair, estarão, provavelmente, isso sim, inseridos numa forma um pouco diferente. Os projetos iniciados ainda durante o mandato do Dr. Miguel Mendes também não vão cair. Portanto, haverá um registo de continuidade. E a maior prova de que as grandes linhas da Sociedade não caem é que a diretora da Academia Cardiovascular continuará a ser a Prof.ª Cristina Gavina, que será também uma das vice-presidentes da SPC, e o diretor do CNCDC manter-se-á o Dr. Marco Costa.

Quais foram os seus critérios e valores que se elevaram na escolha da equipa que o irá acompanhar ao longo destes dois anos? 

O nosso espírito pauta-se pela generosidade e vontade de servir, por isso, a primeira característica que procurámos identificar nas pessoas foi a generosidade. Em segundo lugar a qualidade. A diversidade é também uma realidade que está patente nesta equipa. Não tenho ao meu lado todas as pessoas que gostaria, não seria possível, mas conto com todos para as grandes missões que nos esperam. Só assim poderemos ampliar e melhorar o nosso trabalho.

A SPC tem um passado longo e muito rico, do qual fazem partes algumas pessoas desta equipa e sabemos que não iremos inovar só para fazer novo, mas sim para fazer melhor, naquilo que nos for possível melhorar. Cada elemento desta equipa terá ideias próprias e sonhos para a SPC e é objetivo comum continuar a contribuir para engrandecer esta Sociedade, mantendo um caminho que já se vem a desenhar há 70 anos e que é fruto de uma dedicação gratuita, transversal a todas as equipas que a SPC tem acolhido e pautada por uma grande generosidade.

O que é que os jovens cardiologistas podem esperar desta nova direção?

Temos muita vontade de ir dando voz aos jovens cardiologistas, e, se possível, ampliá-la. Em primeiro lugar contamos com um elemento da direção, o Prof. Rogério Teixeira, cujo pelouro principal será a articulação com os jovens cardiologistas. Estamos, ainda, a desafiar outros jovens especialistas para integrar estruturas da SPC, como é o exemplo do Gabinete de Comunicação. Depois, quer o Conselho dos Jovens Cardiologistas, quer as outras estruturas e seus coordenadores, terão sempre como base, uma linha de orientação marcada por uma atitude inclusiva que promove a diversidade e a integração de todos. Recebemos sempre a inspiração da experiência dos cardiologistas mais velhos, mas trabalhamos o futuro junto de todos, o que está patente na própria constituição da direção.

Simultaneamente, já estamos a envolver os jovens cardiologistas em vários aspetos, nomeadamente, no âmbito das celebrações do 70.º aniversário da SPC. Neste sentido, posso adiantar que no dia 9 de julho vai decorrer uma sessão solene no Centro Cultural de Belém com a presença do Senhor Presidente da República, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, mas haverá outras iniciativas de âmbito cultural e científico de comemoração ao longo do ano.

De uma forma mais genérica, o que espera do futuro da Cardiologia nacional? 

A Cardiologia nacional tem evoluído muito e tem atingido um patamar elevado em todos os níveis, desde a formação à qualidade da prática clínica. Estamos a tratar os doentes muito bem no nosso país e muito melhor do que em muitos países tidos como mais evoluídos. Assim, se conseguirmos manter este patamar de qualidade já estaremos a cumprir a nossa missão. Atingimos um nível de qualidade tão grande que o desafio agora é manter este nível.  Melhorar esta qualidade será extraordinário.

Da nossa parte temos ideias concretas do que poderemos impactar para potenciar este nível de qualidade e vamos fazer tudo por poder aplicá-las numa perspetiva de constante luta pela superioridade científica. Temos vindo a trabalhar há muito tempo, quer em grupos mais fechados de reflexão, quer em grupos mais alargados, para arrancar com este projeto que é a direção da SPC.

Que mensagem gostaria de deixar aos sócios?

Já todos me conhecem relativamente bem e quando aceitei este desafio e me propus como candidato reuni uma comissão de honra que espelha bem a ligação que tenho com os elementos mais representativos da Cardiologia nacional. A SPC é parte da minha vida há muito tempo e quero apenas dizer que continuarei a fazer tudo da mesma forma que tenho feito até agora, sempre com um sentido de serviço, com base no rigor científico, na qualidade e tentando manter o nível a que esta Sociedade chegou.

Texto elaborado pelo Gabinete de Comunicação SPC (S Consulting)

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