The Heart Failure Policy Network lança “The handbook of multidisciplinary and integrated heart failure care”

Por uma maior consciencialização para a Insuficiência Cardíaca nasce um manual para todos os que lidam com esta síndrome.

“A IC é a principal causa de internamento hospitalar em adultos com mais de 65 anos e consome cerca de 3% do orçamento destinado à saúde pública. É uma grande ameaça e não está a ser percecionada como tal. É imprescindível pôr em marcha planos integrados que contribuam para a melhoria da qualidade de vida dos doentes, para a prevenção e que promovam uma melhor resposta por parte dos sistemas de saúde, sobretudo os sistemas de saúde público

Professor Jose Ramon Gonzalez-Juanatey

“A SPC defende e propõe a inclusão desta entidade no plano nacional de saúde e de imediato propõe duas medidas essenciais ao diagnóstico: facilitar o diagnóstico abrindo ao médico de família a possibilidade de usar com comparticipação, o doseamento dos chamados peptídeos natriuréticos auriculares; normalizar a realização do ecocardiograma como ferramenta essencial ao diagnóstico, difundindo a metodologia para a sua realização, de acordo com as normas publicadas pela SPC.”

Prof. João Morais

No passado dia 28 de setembro foi lançado, no Parlamento Europeu, e no âmbito de uma sessão dedicada à partilha de boas práticas na área da insuficiência cardíaca, o manual “The Handbook of multidisciplinar and integrated heart failure care”, com o objetivo de promover a prevenção e melhorar a resposta a esta síndrome, que só em Portugal atinge mais de meio milhão de pessoas.

Este manual foi desenvolvido pela plataforma Heart Failure Policy Network, uma plataforma que nasce da necessidade de intensificar a cooperação entre políticos de toda a Europa, profissionais de saúde, doentes e stakeholders, por forma a fomentar a criação de políticas que contribuam para uma melhor qualidade de vida das pessoas com Insuficiência Cardíaca.

O manual “The handbook of multidisciplinary and integrated heart failure care” foi desenvolvido por forma a traçar um caminho objetivo que possa ser significativo e fazer a diferença no tratamento de doentes com IC. De acordo com os membros da Plataforma, cada pessoa com IC percorre um caminho único e, é importante que possa haver uma rede de cuidados forte e definida. As necessidades de um doente com IC não são estáticas, por isso não existe um caminho único. Há três fases afetas a esta doença, o diagnóstico, o tratamento e acompanhamento e aprender a viver com IC. Dependendo da progressão da doença, as pessoas com IC têm ou podem ter episódios que requerem uma constante supervisão médica.

É objetivo major deste projeto envolver gestores, políticos, profissionais de saúde, doentes, cuidadores e familiares, na gestão de uma doença que se manifesta de forma única em cada indivíduo, que exige uma mentalidade de prevenção e para a qual o diagnóstico precoce e tratamento adequado é fulcral para a qualidade de vida dos doentes.

Para sabermos mais sobre este projeto e sobre o impacto que deverá e poderá ter na perceção e reconhecimento da IC como uma síndrome na qual os estados deverão concentrar mais esforços conversámos com o Professor Jose Ramon Gonzalez-Juanatey, membro da comissão diretiva do “HF Policy Network”, Chefe de Serviço de Cardiologia e de Cuidados Intensivos e Professor Académico, do Hospital Clínico Universitário de Santiago de Compostela e Presidente cessante da Sociedade Espanhola de Cardiologia.

DISCURSO DIRETO | PROFESSOR JOSE RAMON GONZALEZ-JUANATEY

Que medidas deveriam ser acionadas por cada País, por forma a “combater,” a já designada doença epidêmica, a Insuficiência Cardíaca?

Deverão ser promovidas iniciativas em todos os países da União Europeia, incluindo iniciativas a nível político, por forma destacar a importância e magnitude associada à Insuficiência Cardíaca. Dada a extraordinária dimensão e possibilidade de aumento da prevalência desta síndrome, sem uma ação concertada ao nível da prevenção, estaremos a ser responsáveis pelo sofrimento que esta doença causa aos doentes e suas famílias e pelo brutal aumento da sua carga sócio-económica.

A IC é a principal causa de internamento hospitalar em adultos com mais de 65 anos e consome cerca de 3% do orçamento destinado à saúde pública. É uma grande ameaça e não está a ser percecionada como tal. É imprescindível pôr em marcha planos integrados que contribuam para a melhoria da qualidade de vida dos doentes e para a prevenção e que promovam a melhor resposta por parte dos sistemas de saúde, sobretudo os sistemas de saúde públicos.

Qual deverá ser, na sua opinião, o papel das sociedades científicas por forma promover um maior envolvimento da tutela neste tema?

As Sociedades Científicas não devem ser meras “Associações de Profissionais”, é imprescindível que assumam o seu compromisso social e se disponibilizem para ajudar a promover uma melhor qualidade de resposta e uma cultura de prevenção junto dos Sistemas Nacionais de Saúde.

Estou convencido que as Sociedades Científicas são o maior motor de sensibilização social e política e que têm em seu poder a capacidade para contribuir para que haja melhores políticas de saúde para os cidadãos. A saúde deve ser a prioridade de todo o estado social, e as sociedades científicas são o parceiro mais capaz para a construção desse caminho.

Por outro lado, o que deveriam os doentes, profissionais de saúde e a sociedade civil esperar dos seus governantes, em termos de planos de promoção de uma maior qualidade no tratamento e diagnóstico da IC?

A nível político, há uma certa sensibilização para o Enfarto Agudo do Miocárdio e do Acidente Vascular Cerebral, mas o seu conhecimento, e em especial a sensibilização para a IC é, ainda, muito limitada.

Os profissionais de saúde, seja individualmente, mas sobretudo, através das suas organizações, e em particular, das Sociedades Científicas de que são membros, deveriam promover iniciativas políticas que contemplassem planos integrados e coordenados pelos profissionais de saúde que lidam diretamente com a IC. Se não forem eles, ninguém o fará.

Qual a razão, e porque é que ainda se torna tão importante o lançamento de um Manual sobre cuidados multidisciplinares e integrados na IC, o “Handbook of multidisciplinary and integrated heart failure care”?

O Manual apresentado no Parlamento Europeu no passado mês de setembro é uma chamada de atenção a todos os políticos, para que se ponha em marcha a promoção de planos integrados de prevenção e cuidados para os doentes com IC, a nível Europeu.

Apresentaram-se iniciativas decorridas nos diferentes países da UE capazes de constituir um modelo para que se avance com os ditos planos e para que se aposte na gestão de uma patologia que, sendo de grandes dimensões, não pára de crescer.

O meu desejo é que se consiga, com isto, que a Comissão Europeia abrace esta iniciativa global de luta contra esta doença. Estamos muito esperançosos com este projeto e convencidos que assim será.

A seu ver, quais são os maiores desafios associados à literacia, tratamento e diagnóstico da IC?

O desafio é precisamente dar resposta a todas essas necessidades. Não há soluções globais, devem desenvolver-se planos à medida das necessidades locais, mas temos que passar à ação já! Temos que atuar ao nível da prevenção e os profissionais que lidam com a doença têm que promover e liderar ações de sensibilização para esta doença. Como já referi, se não o fazemos já, ninguém o fará por nós.

De que forma a literacia e conhecimento sobre a IC pode estar relacionada com o diagnóstico e tratamento?

Existe uma grande fragmentação em ambas as áreas e múltiplas oportunidades de melhoria que só podemos abraçar com planos locais e integrados de sensibilização para a IC.

Onde seria desejável que estivéssemos, num futuro próximo?

O meu desejo é que o Parlamento Europeu faça, em breve, uma declaração institucional relativamente à IC, que promova políticas e afete recursos destinados a colocar em marcha planos integrados que tragam maior visibilidade a esta patologia. É urgente o envolvimento de todos e a criação de movimentos liderados pelas Sociedades Científicas para que se promova uma maior qualidade de resposta a esta síndrome. É nossa responsabilidade, sobretudo para com os cidadãos que colocam nas nossas mãos a proteção da sua saúde.

DISCURSO DIRETO | PROF. JOÃO MORAIS

Quais as grandes prioridades e ações que a tutela deveria considerar no imediato, para que a IC tenha a melhor abordagem e gestão possíveis e por forma a que os doentes possam ter a devida resposta por parte do sistema?

Ao considerar a insuficiência cardíaca como uma das grandes prioridades para a saúde cardiovascular dos portugueses a SPC deixa bem claro que é nesta área que reside a possibilidade de ir mais longe na redução da mortalidade por doenças do aparelho circulatório em Portugal

Assim, o primeiro grande desafio está no aumento da capacidade de diagnóstico identificando os doentes com esta patologia, a segunda reside na melhoria da capacidade para os tratar

A SPC defende e propõe a inclusão desta entidade no plano nacional de saúde e de imediato propõe duas medidas essenciais ao diagnóstico: facilitar o diagnóstico abrindo ao médico de família a possibilidade de usar com comparticipação, o doseamento dos chamados peptídeos natriuréticos auriculares; normalizar a realização do ecocardiograma como ferramenta essencial ao diagnóstico, difundindo a metodologia para a sua realização, de acordo com as normas publicadas pela SPC.

O que tem a SPC, nomeadamente esta direção, trabalhado nesse sentido?

A SPC tem feito um grande esforço para colocar este tema na agenda politica e até à recente mudança dos titulares do ministério da saúde, podíamos dizer que estávamos a ser bem-sucedidos. Pela primeira vez e muito por iniciativa da SPC, o anterior Secretário de Estado da Saúde nomeou uma comissão de trabalho, da qual a SPC e vários peritos nesta matéria fazem parte. Cabe a esta comissão dar os primeiros passos criando iniciativas concretas, que visem os objetivos defendidos pela SPC.

Para além deste aspeto um recente grupo de peritos, convidados pela SPC, debateram este tema e elaboraram um conjunto de ideias que serão reunidas numa publicação, as quais representam a posição da SPC para o trabalho a desenvolver junto do público, dos médicos em geral e da tutela em particular.

Outras iniciativas estão em marcha visando, em particular, alterar a população para esta entidade ainda estranha para a generalidade dos portugueses.

Outras iniciativas estão em marcha visando, em particular, alterar a população para esta entidade ainda estranha para a generalidade dos portugueses.

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