
Cardiologistas Portugueses
pelo mundo

Alexandra Gonçalves
Cardiologia ecocardiografia avançada
Naturalidade:
Penafiel, Portugal
Local de trabalho:
Universidade de Harvard (HMS) e Brigham and Women’s Hospital
1. Há quanto tempo está a trabalhar no estrangeiro?
Estou a trabalhar em Boston, Massachusetts há 8 anos.
2. Motivo pelo qual saiu do país?
Sai de Portugal com o objectivo de desenvolver competências pessoais e profissionais. Na data, desenvolvia uma carreira acadêmica e no âmbito de uma bolsa de desenvolvimento de carreira financiada pela Fundação da Ciência e Tecnologia, tive oportunidade de vir trabalhar para a Universidade de Harvard (HMS) e Brigham and Women’s Hospital, onde desenvolvi projectos de investigação em imagem cardiovascular e epidemiologia em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
3. Local de trabalho e funções?
Apos tres anos de trabalho na HMS, há 5 anos iniciei funções na Philips, onde presentemente sou Chief Medical Officer, Precision Diagnosis. Tenho responsabilidade de liderança médica para um dos quatro clusters da empresa, o cluster the Precision Diagnosis. Este cluster incorpora várias categorias de imagem diagnóstica: Ressonância Magnética, Tomografia Computadorizada, Imagem Molecular, Raio X, Ultrassom e também Informática e Soluções para Oncologia.
4. Principais projetos atuais?
Os projectos são múltiplos e as minhas responsabilidades atuais abrangem várias áreas da medicina, nomeadamente Cardiologia, Oncologia, Neurologia, Radiologia e Genética, mas o foco é na oportunidade de trazer soluções que proporcionem melhores outcomes para os doentes, melhor experiência para os profissionais de saúde e utentes, a menor custo a nível global. Para tal estou envolvida em projectos de telemedicina, inteligência artificial em diagnóstico e otimização de dados para melhoria da performance clínica.
5. Vantagens de trabalhar nesse país?
Uma das principais vantagens é a multiculturalidade, isso permite uma diversidade de conhecimento e de opiniões que fortalece o conhecimento. O valor do conhecimento de cada um é completamente respeitado independentemente da sua origem. A zona de Boston é altamente científica, logo torna-se um hub de oportunidades para parcerias de sucesso a nível académico e com a indústria farmacêutica e de software e dispositivos médicos.
6. Principais diferenças com Portugal?
A nível da cultura de trabalho a principal diferença relaciona-se com a forma profissionalizada com que a investigação médica é realizada. Há um rigor extremo sem lugar a improviso e com tempo dedicado ao trabalho de forma a garantir qualidade. Ao nível de atividade médica as diferenças são múltiplas, sobretudo pela pressão dos custos e necessidade de aprovação pelas seguradoras. A relação médico-doente é penalizada por isso.
7. Como é vista a cardiologia nacional lá fora?
Nos Estados Unidos, pela minha percepção é que a Cardiologia Nacional é vista com grande respeito, que se deve em grande parte à performance extraordinária que os portugueses têm quando visitam ou trabalham em alguma instituição internacional. A forma como os portugueses interagem e criam laços afetivos é marcante e associada ao respeito intelectual.
8. De que forma a SPC pode ser útil para quem trabalha no estrangeiro?
A SPC pode ajudar a manter a ligação à nossa família alargada que são os colegas de trabalho que deixamos em Portugal. Pode contribuir para propagar os dilemas, desafios e conquistas nacionais para que possamos divulgar ou colaborar na procura de soluções a nível internacional.
9. Objetivos/planos futuros?
Os planos são contribuir de uma forma efetiva para a melhoria da qualidade da medicina a nível global, particularmente na área da Cardiologia e Oncologia, maximizando a oportunidade de digitalização de tarefas, otimizando informação, reduzindo erro medico e trazendo de volta a qualidade na relação médico doente.
10. Do que tem mais saudades de Portugal? Considera a possibilidade de regressar?
As saudades são imensas! Da família logicamente, dos amigos, dos colegas, da comida, da cultura, do nosso comércio, enfim do País! Antes da pandemia viajava muito frequentemente e as saudades culmatavam-se mais facilmente. O último ano foi difícil pois as saudades acumularam.
A ideia de regressar está sempre presente para um futuro ainda indeterminado. No futuro próximo gostaria de regressar às minhas visitas frequentes que permitem maiores alianças de trabalho e ligação contínua à família, colegas e amigos.
11. Alguma ideia ou mensagem que gostasse de deixar à cardiologia portuguesa?
Gostaria de partilhar o meu orgulho em pertencer a Sociedade Portuguesa de Cardiologia e agradecer todas as oportunidades que me foram proporcionadas. A cardiologia portuguesa presta um serviço clínico extraordinário. Gostaria de deixar uma mensagem de incentivo para a profissionalização da investigação em Portugal de forma a reter talento e disseminar o nosso contributo internacionalmente.